quarta-feira, 28 de junho de 2017

Aprendizagem No Eja



 
      Aprendizagem na EJA


 Problemáticas e possibilidades na EJA
           Aprendizagem na EJA, problemáticas e possibilidades foi a proposição que fizemos após sermos provocadas a pensar sobre o que gostaríamos de discutir e pesquisar relativo à vida adulta na Interdisciplina Psicologia da Vida adulta.
  Logo que iniciamos a conversa sobre a vida adulta, surgiu a ideia de versarmos sobre a EJA, pois estamos nos graduando em Pedagogia e somos professoras em atividade, portanto nada melhor para aprofundarmos nosso arcabouço teórico do que pesquisar sobre um assunto que exija estudo direcionado à Educação.
  Desta primeira rodada, elaboramos as perguntas que serviram de base para nosso trabalho. São elas:
“Que preconceitos envolvem a aprendizagem na vida adulta?
 O que sente o aluno da EJA? Vergonha? Medo de não ser aceito? Baixa auto estima?
 Como se cria o vínculo entre professor e aluno adulto?
 Que dificuldades metodológicas e comportamentais enfrenta o professor da EJA?
 Ensino lúdico na EJA pode? ” 


 Aprendizagem na EJA
  Antes de discorrer sobre os temas acima propostos, é necessário registrar outra questão que se apresentou no decorrer das conversas e que deu início aos trabalhos efetivos de pesquisa e escrita, qual seja, há uma ciência que se debruça sobre a educação de adultos?
  De acordo com a pesquisa realizada para responder à pergunta podemos asseverar que    ciência que se encarrega pela educação de adultos. Esta é a Androgogia que vem do grego andros (adulto) gogos (educar) era uma tradução livre, a Andragogia é a educação ou ensino para adultos.
  Foi no século XX, na década 70 que Malcolm Knowles definiu Andragogia como a arte ou ciência que estuda a educação para adultos com o objetivo de uma aprendizagem efetiva como condição fundamental para a construção do conhecimento. O aluno adulto aprende com seus próprios erros e tem consciência quando a falta de conhecimento o prejudica. Nesse sentido o professor tem que ter a capacidade de entender que o aluno adulto são indivíduos independentes e por tanto deve-se estabelecer  um currículo baseado nas necessidades dos estudantes.      
  A Andragogia possui seis princípios fundamentais que ajudam a compreendê-la:
*Necessidade de saber:  os adultos precisam saber qual a necessidade de aprender e o que eles ganharão no decorrer do processo de aprendizagem.
*Autoconceito do Aprendiz:  os adultos são responsáveis por suas vidas e decisões, portanto precisam ser encaradas e tratadas como indivíduos capazes de se fazer suas próprias escolhas.
* Papel das experiências: Os adultos possuem experiências prévias e justamente essas experiências são a base do aprendizado.
*Orientações para aprendizagem: Os adultos aprendem melhor quando a aprendizagem é orientada para, os fatos, aplicabilidade e resultados.
*Motivação: Os adultos respondem bem quando fatores motivacionais entram em cena, como por exemplo, a satisfação, a qualidade de vida, autoestima e afins.
*Prontidão para aprender: Os adultos ficam mais dispostos a aprender quando o conteúdo parece ser útil em seu dia a dia, ou seja, quando o conhecimento tem a finalidade de ajudá-los a enfrentar os desafios cotidianos.
  Diante das premissas apresentadas acima, cabe ressaltar um dos princípios elencados, qual seja, a motivação, pois ela desencadeará no aluno sentimentos favoráveis ou desfavoráveis ao processo ensino-aprendizagem. Por exemplo, como se sentirá o aluno que sofrer qualquer tipo de preconceito? Ou ainda, ao receber uma crítica “por não saber” algo, perseverará?
  Através de relatos, leituras e observações sabemos que os alunos do EJA são extremamente marginalizados, sofrem inúmeros preconceitos, têm vergonha, baixa autoestima, sentem-se solitários e sem perspectivas. As críticas que recebem em relação ao seu “não saber,” acontecem dentro da escola, dentro da comunidade em que vivem e na própria família, que muitas vezes não acredita em seu sucesso de aprendizagem ou precisa deste jovem (e ou) adulto para outra função dentro de casa, no período em que  o aluno está na escola. O aluno do EJA é frequentemente motivo de risadas e piadas cruéis. Chamado de “burro” por tantos que o cercam e que o deveriam apoiar, acaba duvidando de si.  Esquece que existe uma diferença enorme entre saber ler e escrever (ser alfabetizado) e saber ler o mundo. Não sabe ele mesmo, que a experiência de vida, sua história, cultura e visão do mundo são e serão aliados em sua aprendizagem. É essa bagagem de vida que o aluno traz com ele quando volta para dentro da sala de aula, que vai nortear sua aprendizagem.
  Paulo Freire(1998,p.80) nos diz que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra.” Mas afinal, o que é a leitura do mundo? Antes de uma pessoa ser alfabetizada e aprender a decodificar códigos e símbolos, ela já sabe ler implicitamente, talvez não as palavras grafadas num livro, mas essa pessoa sabe ler a vida. É na escola que o aluno do EJA vai buscar a força e a motivação para transformar a vida, cada um dentro de sua trajetória única, espera da escola, o que nem sempre encontra. Segundo Naif (2005, p. 402):

[...] a escola muitas vezes encontra dificuldades para compreender as particularidades desse público, no qual os motivos que os levam à evasão, ainda no início da juventude, e as motivações que envolvem sua volta à sala de aula são informações preciosas para quem lida com a questão. Deixá-los escapar leva à inadequação do serviço oferecido e a um processo de exclusão que, infelizmente, não será o primeiro na vida de muitos desses alunos.

  Essa bagagem de vida trazida pelo aluno é suficiente para que ele aprenda o que precisa para ele e para o mundo? Sabemos que não. Muitos alunos do EJA decodificam os códigos escritos, mas não conseguem ler verdadeiramente, nem compreender, nem interpretar a leitura. São “analfabetos funcionais”. Outros estão tão cansados de suas rotinas diárias, que ou são afetados por essa exaustão durante a aula, cansados demais para prestar atenção, ou desistem de seguir adiante, abandonando o sonho da maioria que é transformar a própria vida com seu saber. Diferente das crianças que estudam no ensino regular e que além de assimilar e absorvem o novo com naturalidade e ainda serem elogiadas por suas conquistas, ainda que incompletas, para o aluno do EJA fica sempre a sensação de não é o bastante, de que a aprendizagem está tão atrasada que não é grande coisa. As dificuldades dos alunos do EJA têm múltiplas causas: São inúmeros fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, econômicos, sociais e pedagógicos que não podem ser vistos por uma lente única linear da escola.
  Em outras palavras, mais do que ver a realidade, é preciso olhar o aluno de EJA. Existe uma diferença de tempo fundamental entre o ver e o olhar. Ver é instantâneo, pode ser feito de forma rápida. Olhar é lentidão e precisa de mais tempo para reflexão. Para ver, só é preciso abrir os olhos. Olhar é descobrir o que está oculto... O olhar é uma extensão do ver mesmo não sendo. É observar com atenção, para além daquilo que todos podem ver. Exige tempo e interesse.      Para transformar é preciso observar. Há que se ter humildade para silenciar e observar ao invés de falar e ditar. Não é fácil para quem ensina dar um passo atrás e parar para poder avançar. Talvez seja esse o maior desafio para o educador do EJA, saber aprender antes de ensinar.

“Paul Valéry disse que uma obra de arte deveria nos ensinar que não vimos aquilo que vemos. Que ver é não ver. Dirá Lacan: ver é perder. Perder algo do objeto, algo do que contemplamos, por que jamais podemos contemplar o todo. O que se mostra só se mostra por que não o vemos. Neste processo está implicado o que podemos chamar o silêncio da visão: abrimo-nos à experiência do olhar no momento em que o objeto nos impede de ver. Uma obra de arte não nos deixa ver. Ela nos faz pensar. Então, olhamos para ela e vemos”. (Márcia Tiburi)

  Sem dúvida alguma , é preciso olhar o aluno de EJA e deste olhar construir possibilidades e dentre estas, uma em especial, qual seja, o vínculo.
  E como se cria o vínculo entre professor e aluno adulto?
  Antes de tudo uma definição para o verbete vínculo. Um vínculo, do latim vinculum, significa união, relação ou ligação de uma pessoa com outra. Portanto, ao reescrever a pergunta acima utilizando as definições em destaque teremos “o que pode favorecer a união entre professor e aluno? ”ou ainda, “ o que mantém a relação entre professor e aluno? ”
  Sem dúvida alguma, criar, favorecer ou manter são ações que exigem empatia daquele que acolhe e o professor ocupa esta posição no momento em que o aluno se apresenta à instituição escolar.
  Uma vez que empatia é a capacidade de colocar-se no lugar do outro, o professor deverá exercitar aquela a partir do histórico do aluno, ou seja, das circunstâncias e vivências do sujeito para criar argumentos sensíveis a fim de que o aluno se sinta acolhido.
  Certamente, o acolhimento calcado no conhecimento que o aluno adquiriu ao longo de sua vida poderá ser efetivo, pois respeitará a trajetória e alicerçará o planejamento das intervenções necessárias.
  Assim, ao valorizar o conhecimento adquirido pelo aluno, seja o que tem lastro no sensível como também no cotidiano, acolhe-se a ideia de que

[...]aprendemos a relacionar ideias, abstraindo de nossa experiência, o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola é totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento, pois seja o indivíduo criança, jovem ou adulto que nunca foi à escola, carrega consigo uma bagagem absorvida através da interação social. ” (Costa; Reis; Araújo,       ,p.5)

  Se, ao ingressar ou retornar à sala de aula o aluno for respeitado como um ser capaz de construir seu arcabouço cognitivo, o ambiente escolar será acolhedor e a aprendizagem será efetiva. Quando referimos acolhimento, estamos denominando um par inicial, qual seja, o sujeito que aprende com alguém.
  De acordo com Kupfer,

“[...]da perspectiva psicanalítica, não se focalizam os conteúdos, mas o campo que se estabelece entre o professor e seu aluno, que estabelece condições para o aprender, sejam quais forem os conteúdos. ” (Kupfer,1989, p.87)

  O campo que precisa ser forjado, de acordo com Kupfer, favorecerá qualquer planejamento e para efetivá-los poderemos lançar mão da ludicidade, ou melhor perguntando, ensino lúdico na EJA pode? 
  A palavra lúdico é originária do latim ludus (lat), que significa jogo, divertimento.
  Um de nossos questionamentos é como seria a aceitação dos alunos da Educação de Jovens e Adultos frente a atividades lúdicas. Será que aceitariam? Poderiam se sentir infantilizados? O que os professores estão fazendo para motivar esses alunos que já vem para sala de aula cansados de sua rotina diária?
  Como na maioria das vezes esses alunos são pessoas que tem baixa auto estima, que não acreditam serem capazes de aprender, chegam cansados e desmotivados pelas dificuldades e preconceitos que enfrentam, o desafio maior são práticas educativas que desenvolvam a permanência do educando na escola.

  O Lúdico é um recurso indispensável para qualquer fase da educação escolar, assim é preciso considerar todas a atividades que contribuem para o desenvolvimento do educando e fazer dessa ferramenta pedagógica um elo de ligação entre ensino e aprendizagem. (CASTILHO; TONUS p.2)

  Cabe ao professor realizar o processo de ensino aprendizagem com alegria, abordando e aceitando o conhecimento que o aluno traz consigo. O lúdico torna-se uma possibilidade interessante e de papel fundamental nessa etapa, pois faz com que o professor se aproxime do aluno e ele se sinta a vontade, facilitando assim que professor acompanhe os progressos e dificuldades do educando.
  Durante a pesquisa podemos identificar alguns recursos que os professores estão utilizando, são eles jogos de mesa, jogos online, músicas, atividades fora da sala de aula, entre outros. Foram percebidos por diversos pesquisadores do assunto que as atividades estimularam e motivaram o interesse e a participação dos alunos, refletiram num ambiente de bem estar, no aumento da frequência e permanência desses alunos.
  Em síntese, enfrentar os desafios de um jogo requer a utilização de recursos cognitivos e afetivos semelhantes aos exigidos na solução de problemas da vida prática ou em situações de aprendizagem escolar.
          De acordo com GOMES; BORUCHOVITCH

 São os processos cognitivos, afetivos e de auto regulação que garantem, aos sujeitos, o êxito nessas situações distintas, porém especificamente humanas e criativas. Essa analogia reforça o pressuposto de que é possível auxiliar os educandos, por meio dos jogos, a aprenderem a aprender, aprenderem a pensar e aprenderem a solucionar problemas. (GOMES; BORUCHOVITCH p.105)

  Portanto, frente as pesquisas realizadas compreendemos que trabalhar com o lúdico na sala de aula da EJA pode auxiliar na aprendizagem, pois possibilita que esta seja construída de maneira prazerosa, proporcionando segurança e socialização dos educandos, trazendo a motivação que precisam para enfrentar as dificuldades e permanecer no ambiente escolar.
           
  Espera-se desses educandos um desenvolvimento educacional com potencialidades de forma harmoniosa respeitando os aspectos biológicos e psicológicos em cada fase da escolaridade. Sendo assim o lúdico pode contribuir no ensino aprendizagem e para a melhoria na educação, especialmente de Jovens e Adultos. (CASTILHO; TONUS p.4)

  A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. (SANTOS P. 12)

 Sujeito na aprendizagem
  Em suma, o aluno da EJA é um sujeito com peculiaridades específicas de acordo com a fase que ocupa na vida adulta. Agregar a esta constatação o respeito às necessidades, desejos, saberes, vivências trazidas pelo educando é principiar com subsídios robustos e inescapáveis quando o planejamento calcado em teorias específicas e gerais for realizado.


Referências:
CASTILHO, Marlene A.; TONUS, Loraci H. O lúdico e sua importância na educação de jovens e adultos. Synergismus scyentifica UTFPR, Pato Branco, 03 (2-3). 2008.
COSTA, Ana Cláudia de Oliveira; Reis, Keilla Cristiane dos; Araújo, Jaileila de. “A afetividade nas relações professor-aluno: um estudo na Educação de Jovens e Adultos. Disponível em: https://www.ufpe.br/ce/images/Graduacao_pedagogia/pdf/2006.2/a%20afetividade%20nas%20relaes%20professor-aluno%20um%20estudo%20na%20educao%20de%20jovens%20e%20adultos.pdf Acesso em: 29/04/2017
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 22° edição. Cortez, p.80. São Paulo, 1998.
GOMES, Maria Aparecida M.; BORUCHOVITCH, Evely. Aprendizagem por meios de jogos: uma abordagem cognitiva. Vozes, Petrópolis - RJ, 2004.
HAMZE, Amelia. Trabalho docente. Andragogia e a arte de ensinar adultos. Disponível em: http://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/andragogia.htm Acesso em: 01/05/17
KUPFER, Maria Cristina. Freud e a educação. O mestre do impossível. São Paulo: Scipione, 1989.
NAIFF, L. A. M; SÁ, C. P., & Naiff, D. G. M. (2005). Exclusão social nas memórias autobiográficas de mães e filhas [CD-ROM]. In: Anais da IV Jornada Internacional e II Conferência Brasileira sobre Representações Sociais (pp. 1233-1247). João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. O lúdico na formação do educador. 5 ed.  Vozes, Petrópolis, 2002.
TIBURI, Márcia. Aprender a pensar é descobrir o olhar. Jornal do Margs, edição 103(setembro/outubro) Disponível em: http://www.marciatiburi.com.br/textos/aprender.htm Acesso em: 01/05/17

VELER, Equipe. Aprendizagem. Andragogia: o que é e qual sua importância para a aprendizagem corporativa. Disponível em: http://veler.com.br/blog/andragogia-o-que-e-e-qual-sua-importancia-para-aprendizagem-corporativa/ Acesso em: 01/05/17

                     Conclusão

Esse trabalho é a versão final do grupo sobre a aprendizagem no EJA. Através do tema estudado  cheguei  a conclusão que os jovens e adultos  precisam  de estimulo para frequentar a escola. É importante levar em consideração as vivências que cada aluno do EJA tem e buscar diferentes meios que os levem a querer frequentar a escola. O adulto do EJA constrói suas aprendizagem quando esse conhecimento os ajuda a enfrentar os desafios do seu dia a dia. Portanto é importante que o professor crie vinculo com esse aluno, que ele sinta-se seguro em poder perguntar, questionar e também expor seu conhecimento sem que se sinta envergonhado por não entender bem determinado assunto.