Aprendizagem na EJA
Problemáticas e possibilidades na EJA
Aprendizagem na EJA, problemáticas e
possibilidades foi a proposição que fizemos após sermos provocadas a pensar
sobre o que gostaríamos de discutir e pesquisar relativo à vida adulta na
Interdisciplina Psicologia da Vida adulta.
Logo que iniciamos a conversa sobre a vida
adulta, surgiu a ideia de versarmos sobre a EJA, pois estamos nos graduando em
Pedagogia e somos professoras em atividade, portanto nada melhor para
aprofundarmos nosso arcabouço teórico do que pesquisar sobre um assunto que
exija estudo direcionado à Educação.
Desta primeira rodada, elaboramos as
perguntas que serviram de base para nosso trabalho. São elas:
“Que preconceitos envolvem a aprendizagem na
vida adulta?
O que
sente o aluno da EJA? Vergonha? Medo de não ser aceito? Baixa auto estima?
Como
se cria o vínculo entre professor e aluno adulto?
Que
dificuldades metodológicas e comportamentais enfrenta o professor da EJA?
Ensino
lúdico na EJA pode? ”
Aprendizagem na EJA
Antes de discorrer sobre os temas acima propostos,
é necessário registrar outra questão que se apresentou no decorrer das
conversas e que deu início aos trabalhos efetivos de pesquisa e escrita, qual
seja, há uma ciência que se debruça sobre a educação de adultos?
De acordo com a pesquisa realizada para
responder à pergunta podemos asseverar que
há ciência que se encarrega pela
educação de adultos. Esta é a Androgogia que vem do grego andros (adulto) gogos
(educar) era uma tradução livre, a Andragogia é a educação ou ensino para
adultos.
Foi no século XX, na década 70 que Malcolm
Knowles definiu Andragogia como a arte ou ciência que estuda a educação para
adultos com o objetivo de uma aprendizagem efetiva como condição fundamental
para a construção do conhecimento. O aluno adulto aprende com seus próprios
erros e tem consciência quando a falta de conhecimento o prejudica. Nesse
sentido o professor tem que ter a capacidade de entender que o aluno adulto são
indivíduos independentes e por tanto deve-se estabelecer um currículo baseado nas necessidades dos
estudantes.
A Andragogia possui seis princípios
fundamentais que ajudam a compreendê-la:
*Necessidade
de saber: os adultos precisam saber qual
a necessidade de aprender e o que eles ganharão no decorrer do processo de
aprendizagem.
*Autoconceito
do Aprendiz: os adultos são responsáveis
por suas vidas e decisões, portanto precisam ser encaradas e tratadas como
indivíduos capazes de se fazer suas próprias escolhas.
* Papel
das experiências: Os adultos possuem experiências prévias e justamente essas
experiências são a base do aprendizado.
*Orientações
para aprendizagem: Os adultos aprendem melhor quando a aprendizagem é orientada
para, os fatos, aplicabilidade e resultados.
*Motivação:
Os adultos respondem bem quando fatores motivacionais entram em cena, como por
exemplo, a satisfação, a qualidade de vida, autoestima e afins.
*Prontidão
para aprender: Os adultos ficam mais dispostos a aprender quando o conteúdo
parece ser útil em seu dia a dia, ou seja, quando o conhecimento tem a finalidade
de ajudá-los a enfrentar os desafios cotidianos.
Diante das premissas apresentadas acima, cabe
ressaltar um dos princípios elencados, qual seja, a motivação, pois ela
desencadeará no aluno sentimentos favoráveis ou desfavoráveis ao processo
ensino-aprendizagem. Por exemplo, como se sentirá o aluno que sofrer qualquer
tipo de preconceito? Ou ainda, ao receber uma crítica “por não saber” algo,
perseverará?
Através de relatos, leituras e observações
sabemos que os alunos do EJA são extremamente marginalizados, sofrem inúmeros
preconceitos, têm vergonha, baixa autoestima, sentem-se solitários e sem
perspectivas. As críticas que recebem em relação ao seu “não saber,” acontecem
dentro da escola, dentro da comunidade em que vivem e na própria família, que muitas
vezes não acredita em seu sucesso de aprendizagem ou precisa deste jovem (e ou)
adulto para outra função dentro de casa, no período em que o aluno está na escola. O aluno do EJA é
frequentemente motivo de risadas e piadas cruéis. Chamado de “burro” por tantos
que o cercam e que o deveriam apoiar, acaba duvidando de si. Esquece que existe uma diferença enorme entre
saber ler e escrever (ser alfabetizado) e saber ler o mundo. Não sabe ele
mesmo, que a experiência de vida, sua história, cultura e visão do mundo são e
serão aliados em sua aprendizagem. É essa bagagem de vida que o aluno traz com
ele quando volta para dentro da sala de aula, que vai nortear sua aprendizagem.
Paulo Freire(1998,p.80) nos diz que “a
leitura do mundo precede a leitura da palavra.” Mas afinal, o que é a leitura
do mundo? Antes de uma pessoa ser alfabetizada e aprender a decodificar códigos
e símbolos, ela já sabe ler implicitamente, talvez não as palavras grafadas num
livro, mas essa pessoa sabe ler a vida. É na escola que o aluno do EJA vai
buscar a força e a motivação para transformar a vida, cada um dentro de sua
trajetória única, espera da escola, o que nem sempre encontra. Segundo Naif
(2005, p. 402):
[...]
a escola muitas vezes encontra dificuldades para compreender as
particularidades desse público, no qual os motivos que os levam à evasão, ainda
no início da juventude, e as motivações que envolvem sua volta à sala de aula
são informações preciosas para quem lida com a questão. Deixá-los escapar leva
à inadequação do serviço oferecido e a um processo de exclusão que,
infelizmente, não será o primeiro na vida de muitos desses alunos.
Essa bagagem de vida trazida pelo aluno é
suficiente para que ele aprenda o que precisa para ele e para o mundo? Sabemos
que não. Muitos alunos do EJA decodificam os códigos escritos, mas não
conseguem ler verdadeiramente, nem compreender, nem interpretar a leitura. São
“analfabetos funcionais”. Outros estão tão cansados de suas rotinas diárias,
que ou são afetados por essa exaustão durante a aula, cansados demais para
prestar atenção, ou desistem de seguir adiante, abandonando o sonho da maioria
que é transformar a própria vida com seu saber. Diferente das crianças que
estudam no ensino regular e que além de assimilar e absorvem o novo com
naturalidade e ainda serem elogiadas por suas conquistas, ainda que
incompletas, para o aluno do EJA fica sempre a sensação de não é o bastante, de
que a aprendizagem está tão atrasada que não é grande coisa. As dificuldades
dos alunos do EJA têm múltiplas causas: São inúmeros fatores orgânicos,
cognitivos, afetivos, econômicos, sociais e pedagógicos que não podem ser
vistos por uma lente única linear da escola.
Em outras palavras, mais do que ver a
realidade, é preciso olhar o aluno de EJA. Existe uma diferença de tempo
fundamental entre o ver e o olhar. Ver é instantâneo, pode ser feito de forma
rápida. Olhar é lentidão e precisa de mais tempo para reflexão. Para ver, só é preciso
abrir os olhos. Olhar é descobrir o que está oculto... O olhar é uma extensão
do ver mesmo não sendo. É observar com atenção, para além daquilo que todos
podem ver. Exige tempo e interesse.
Para transformar é preciso observar. Há que se ter humildade para
silenciar e observar ao invés de falar e ditar. Não é fácil para quem ensina
dar um passo atrás e parar para poder avançar. Talvez seja esse o maior desafio
para o educador do EJA, saber aprender antes de ensinar.
“Paul
Valéry disse que uma obra de arte deveria nos ensinar que não vimos aquilo que
vemos. Que ver é não ver. Dirá Lacan: ver é perder. Perder algo do objeto, algo
do que contemplamos, por que jamais podemos contemplar o todo. O que se mostra
só se mostra por que não o vemos. Neste processo está implicado o que podemos
chamar o silêncio da visão: abrimo-nos à experiência do olhar no momento em que
o objeto nos impede de ver. Uma obra de arte não nos deixa ver. Ela nos faz
pensar. Então, olhamos para ela e vemos”. (Márcia Tiburi)
Sem dúvida alguma , é preciso olhar o aluno
de EJA e deste olhar construir possibilidades e dentre estas, uma em especial,
qual seja, o vínculo.
E como se cria o vínculo entre professor e
aluno adulto?
Antes de tudo uma definição para o verbete
vínculo. Um vínculo, do latim vinculum,
significa união, relação ou ligação de uma pessoa com outra. Portanto, ao
reescrever a pergunta acima utilizando as definições em destaque teremos “o que
pode favorecer a união entre professor e aluno? ”ou ainda, “ o que mantém a
relação entre professor e aluno? ”
Sem dúvida alguma, criar, favorecer ou manter
são ações que exigem empatia daquele que acolhe e o professor ocupa esta
posição no momento em que o aluno se apresenta à instituição escolar.
Uma vez que empatia é a capacidade de
colocar-se no lugar do outro, o professor deverá exercitar aquela a partir do
histórico do aluno, ou seja, das circunstâncias e vivências do sujeito para
criar argumentos sensíveis a fim de que o aluno se sinta acolhido.
Certamente, o acolhimento calcado no
conhecimento que o aluno adquiriu ao longo de sua vida poderá ser efetivo, pois
respeitará a trajetória e alicerçará o planejamento das intervenções
necessárias.
Assim, ao valorizar o conhecimento adquirido
pelo aluno, seja o que tem lastro no sensível como também no cotidiano,
acolhe-se a ideia de que
[...]aprendemos a relacionar ideias,
abstraindo de nossa experiência, o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na
escola é totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento, pois seja o
indivíduo criança, jovem ou adulto que nunca foi à escola, carrega consigo uma
bagagem absorvida através da interação social. ” (Costa; Reis; Araújo, ,p.5)
Se, ao ingressar ou retornar à sala de aula o
aluno for respeitado como um ser capaz de construir seu arcabouço cognitivo, o
ambiente escolar será acolhedor e a aprendizagem será efetiva. Quando referimos
acolhimento, estamos denominando um par inicial, qual seja, o sujeito que
aprende com alguém.
De acordo com Kupfer,
“[...]da
perspectiva psicanalítica, não se focalizam os conteúdos, mas o campo que se
estabelece entre o professor e seu aluno, que estabelece condições para o
aprender, sejam quais forem os conteúdos. ” (Kupfer,1989, p.87)
O campo que precisa ser forjado, de acordo com
Kupfer, favorecerá qualquer planejamento e para efetivá-los poderemos lançar
mão da ludicidade, ou melhor perguntando, ensino lúdico na EJA pode?
A palavra lúdico é originária do latim ludus (lat), que significa jogo,
divertimento.
Um de nossos questionamentos é como seria a
aceitação dos alunos da Educação de Jovens e Adultos frente a atividades
lúdicas. Será que aceitariam? Poderiam se sentir infantilizados? O que os
professores estão fazendo para motivar esses alunos que já vem para sala de aula
cansados de sua rotina diária?
Como na maioria das vezes esses alunos são
pessoas que tem baixa auto estima, que não acreditam serem capazes de aprender,
chegam cansados e desmotivados pelas dificuldades e preconceitos que enfrentam,
o desafio maior são práticas educativas que desenvolvam a permanência do
educando na escola.
O Lúdico é um recurso indispensável para
qualquer fase da educação escolar, assim é preciso considerar todas a
atividades que contribuem para o desenvolvimento do educando e fazer dessa
ferramenta pedagógica um elo de ligação entre ensino e aprendizagem. (CASTILHO;
TONUS p.2)
Cabe ao professor realizar o processo de
ensino aprendizagem com alegria, abordando e aceitando o conhecimento que o
aluno traz consigo. O lúdico torna-se uma possibilidade interessante e de papel
fundamental nessa etapa, pois faz com que o professor se aproxime do aluno e
ele se sinta a vontade, facilitando assim que professor acompanhe os progressos
e dificuldades do educando.
Durante a pesquisa podemos identificar alguns
recursos que os professores estão utilizando, são eles jogos de mesa, jogos
online, músicas, atividades fora da sala de aula, entre outros. Foram
percebidos por diversos pesquisadores do assunto que as atividades estimularam
e motivaram o interesse e a participação dos alunos, refletiram num ambiente de
bem estar, no aumento da frequência e permanência desses alunos.
Em síntese, enfrentar os desafios de um jogo
requer a utilização de recursos cognitivos e afetivos semelhantes aos exigidos
na solução de problemas da vida prática ou em situações de aprendizagem
escolar.
De acordo com GOMES; BORUCHOVITCH
São os processos cognitivos, afetivos e de
auto regulação que garantem, aos sujeitos, o êxito nessas situações distintas,
porém especificamente humanas e criativas. Essa analogia reforça o pressuposto
de que é possível auxiliar os educandos, por meio dos jogos, a aprenderem a
aprender, aprenderem a pensar e aprenderem a solucionar problemas. (GOMES;
BORUCHOVITCH p.105)
Portanto, frente as pesquisas realizadas
compreendemos que trabalhar com o lúdico na sala de aula da EJA pode auxiliar
na aprendizagem, pois possibilita que esta seja construída de maneira
prazerosa, proporcionando segurança e socialização dos educandos, trazendo a
motivação que precisam para enfrentar as dificuldades e permanecer no ambiente
escolar.
Espera-se desses educandos um desenvolvimento
educacional com potencialidades de forma harmoniosa respeitando os aspectos
biológicos e psicológicos em cada fase da escolaridade. Sendo assim o lúdico
pode contribuir no ensino aprendizagem e para a melhoria na educação,
especialmente de Jovens e Adultos. (CASTILHO; TONUS p.4)
A ludicidade é uma necessidade do ser humano
em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento
do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e
cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior
fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e
construção do conhecimento. (SANTOS P. 12)
Sujeito na aprendizagem
Em suma, o aluno da EJA é um sujeito com
peculiaridades específicas de acordo com a fase que ocupa na vida adulta.
Agregar a esta constatação o respeito às necessidades, desejos, saberes,
vivências trazidas pelo educando é principiar com subsídios robustos e
inescapáveis quando o planejamento calcado em teorias específicas e gerais for
realizado.
Referências:
CASTILHO,
Marlene A.; TONUS, Loraci H. O lúdico e
sua importância na educação de jovens e adultos. Synergismus scyentifica
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COSTA,
Ana Cláudia de Oliveira; Reis, Keilla Cristiane dos; Araújo, Jaileila de. “A afetividade nas relações
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https://www.ufpe.br/ce/images/Graduacao_pedagogia/pdf/2006.2/a%20afetividade%20nas%20relaes%20professor-aluno%20um%20estudo%20na%20educao%20de%20jovens%20e%20adultos.pdf
Acesso em: 29/04/2017
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três artigos que se completam. 22° edição. Cortez, p.80. São Paulo, 1998.
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Maria Aparecida M.; BORUCHOVITCH, Evely. Aprendizagem
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01/05/17
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Conclusão
Conclusão
Esse trabalho é a versão final do grupo sobre a aprendizagem no EJA. Através do tema estudado cheguei a conclusão que os jovens e adultos precisam de estimulo para frequentar a escola. É importante levar em consideração as vivências que cada aluno do EJA tem e buscar diferentes meios que os levem a querer frequentar a escola. O adulto do EJA constrói suas aprendizagem quando esse conhecimento os ajuda a enfrentar os desafios do seu dia a dia. Portanto é importante que o professor crie vinculo com esse aluno, que ele sinta-se seguro em poder perguntar, questionar e também expor seu conhecimento sem que se sinta envergonhado por não entender bem determinado assunto.
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